Mudar Hábitos Alimentares (Parte I)
26 Junho, 2015

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Quando há 1 ano atrás pensei em criar este espaço, sabia que o meu foco seria a alimentação, a saúde e a partilha de receitas. É uma área que não era inata em mim (de todo), não tinha mesmo jeito, mas que aprendi a gostar (e sem qualquer duvida continuo a aprender).

Decidi falar sobre este tema pois sei que é uma área que muitas pessoas querem mudar, a alimentação, seja porque querem melhorar a sua saude, seja porque querem aprender a comer melhor. Por isso este artigo vai ser dividido em Parte I (vou falar de como eu mudei os meus próprios hábitos alimentares) e Parte II (vou tentar dar dicas para quem quer mudar os seus próprios hábitos alimentares).

Quando me dizem que não é fácil mudar hábitos alimentares, criar o hábito de comer legumes, fruta fresca, alimentos integrais e outros que não sejam processados eu compreendo perfeitamente pois já passei pelo mesmo, mas digo que se eu mudei um hábito de quase 30 anos qualquer pessoa também consegue. E por isso nada melhor do que contar a minha propria historia.

Desde a infancia até à idade adulta (cerca dos 27 anos) que adquiri péssimos hábitos alimentares, desde pequenos almoços cheios de açúcar, a fritos, fast food ao almoço, os lanches não eram melhores e os jantares idem. Detestava legumes (então verdes era para esquecer) e fruta (comia uma peça ocasionalmente). As minhas compras de supermercado eram tudo menos coloridas, frescas e de curta validade. O problema é que eu não fazia isto de vez em quando, mas sim diariamente. Tornou-se um hábito. Se estava alguns dias sem comer um chocolate, um bolo ou algo doce (sim eu era mesmo para os doces), sentia tantos desejos que tinha de ir comprar e comer até não haver mais.

Quando terminei o curso de Naturopatia em 2011 sabia que a frase “somos o que comemos” fazia todo o sentido, mas a realidade é que eu não a aplicava na minha própria vida, o conceito de holismo (de que tudo está interligado) e de que as doenças podem ser explicadas como um desequilibro da pessoa num todo (várias áreas, não só físicas) começou a fazer cada vez mais sentido na minha própria vida.

O motivo para mudar:

A minha vontade de mudar começa num dia em que estava sentada num restaurante de fast food a comer uma panqueca enorme com molho de chocolate e uma bola de gelado e um batido de morango e natas a acompanhar. Apesar de soar delicioso, aquilo não me estava a saber bem e por alguma razão a minha consciência disse-me que aquele não era o meu caminho, foi um momento de epifania em que disse para o meu marido, a partir de hoje quero começar a comer melhor, a sentir-me bem com o que alimento o meu corpo. Como posso aconselhar as pessoas a mudar e melhorar a sua saúde se eu não o faço?

Como comecei:

Posso já dizer, não foi nada fácil, mudar os meus hábitos enraizados, foi uma tarefa árdua. Diria talvez de paciência e de aprendizagem.

Mas sabia que tinha de começar por algum lado e aquilo que fui aprendendo ao longo do curso de Natupatia ajudou-me.

Primeiro comecei por identificar quais eram os pontos fracos e fortes na minha alimentação, o que eu achava que fazia bem ao meu organismo e o que fazia mal.

Pontos fracos:

  • O consumo excessivo de açúcar refinado (o meu tendão de aquiles)
  • Os refrigerantes (adorava coca-cola, ice-tea, 7up e afins e consumia quase diariamente)
  • Os fritos (comia batatas fritas, rissóis croquetes e alimentos fritos pelo menos 2 vezes por semana)
  • As refeições pré feitas
  • As idas frequentes a restaurantes de fast food (ia quase todas as semanas)
  • Todos os alimentos processados que comprava
  • Comia pouca fruta (uma peça ocasionalmente)
  • Não comia fibra suficiente (nada de verdes, integrais ou alimentos inteiros)

Pontos fortes (foi difícil de nomear, mas depois de muito pensar):

  • Não gosto de comer sempre a mesma refeição ao pequeno-almoço, enjoo com alguma facilidade os cereais de pequeno-almoço (poderia começar por aqui a mudança)
  • Quando comecei o curso apaixonei-me por comida vegetariana apesar de usarem muitos legumes, as combinações de sabores eram uma delicia ao meu paladar (poderia investir mais nessa área e começar pela introdução de vegetais)
  • Sempre gostei de arroz, massas, feijão de todas as qualidades, batatas (podia começar a introduzir os integrais)
  • Apesar de não comer fruta regularmente, sempre adorei fruta (não há nenhuma que não goste, era só uma questão de introdução na alimentação diária)
  • Adoro sopa e sou capaz de comer a qualquer refeição (poderia tornar as minhas sopas mais ricas, principalmente em vegetais)

Depois de identificados os pontos fortes e fracos estava na hora de definir objectivos

definir os meus objectivos:

Este foi talvez o passo mais importante no meu processo de mudança: Definir quais eram os meus objectivos com a mudança na alimentação.

  1. Comer mais legumes, comer mais fruta,
  2. Cortar com a fast food, eliminar a ingestão diária de alimentos processados
  3. Sentir-me bem e com energia para enfrentar os desafios do meu dia a dia
  4. Tratar os meus problemas de saúde
  5. Mais tarde comecei a perceber que queria eliminar a carne da minha alimentação e os produtos de origem animal
  6. Comer maioritariamente refeições vegetarianas e vegans

O mais engraçado é que no inicio tinha mil e um objectivos e pensei, como é que eu vou mudar isto tudo? é uma grande mudança para mim é quase uma mudança radical, mas depois com calma pensei.. uma coisa de cada vez, tudo a seu tempo!

allow yourself to be

(permita-se ser um principiante, ninguém começa por ser excelente)

Passar à acção:

Depois de definidos os meus objectivos e de perceber quais os meus pontos fortes e fracos, pensei “qual é a 1ª coisa que quero mudar?”.

  1. Comecei pelo açúcar: fui radical ao ponto de cortar todo e qualquer açúcar cá de casa, bolachas, cereais de pequeno almoço, bolos e até o açúcar que punha no café. Claro está que as primeiras semanas ou o 1º mês não me sentia nada bem, completamente fora da minha zona de conforto, parecia quase que estava numa ressaca, mas foi nessa fase que comecei a comer mais fruta e percebi que ela gradualmente foi satisfazendo os meus desejos por doces, quando vinha um desejo de comer um chocolate comia uma manga ou uma peça de fruta mais doce e muitas vezes passava aquela vontade de o comer, se não passa-se comia o doce. Depois comecei a usar açucares naturais como o maple syrup, as tâmaras, geleia de arroz e colocava em tudo o que exigisse o açúcar branco. Na aveia ao pequeno-almoço, num bolo, mas foi assim gradualmente que me fui desabituando do açúcar.
  2. Cortei com a fast food e refrigerantes: Este passo também fiz logo no inicio. Como consegui cortar? simplesmente quando ia a um centro comercial em vez de ir logo para a zona desses restaurantes comecei por explorar outros, comida de prato, massas, saladas com massas, agora até há restaurantes que servem hambúrgueres no prato com opções vegetarianas e vegans, podem não ser os mais saudáveis, mas dentro das opções que há são muito bons. E vamos ser sinceros sabe bem de vez em quando comer essas coisas.
  3. Mudar os hábitos no supermercado: Este passo já foi mais gradual, mas a grande vantagem é que sou eu que faço as compras e fui aprendendo que o cesto tem de estar colorido e com produtos de curta validade. As poucos fui mudando a despensa e o frigorífico. Quando não temos em casa alimentos como chocolates, gelados e bolachas é bem mais fácil atacar a fruta ou os frutos secos. 😉

Posso dizer que mudar hábitos alimentares é quase como aprender a comer novamente.. é uma reeducação de sabores e de hábitos. Mas que LEVA TEMPO.

Os meus erros e dificuldades que senti e ainda sinto:

  • O meu grande erro no inicio foi não comer as quantidades suficientes. Não percebia que um hambúrguer com batatas fritas tem muito mais calorias do que um prato cheio de salada, legumes e fruta. O que levou a uma perda de peso notória.
  • Como não comia quantidades e calorias suficientes, tinha muitos mais picos de fome. Conclusão, quando temos fome só apetece comer açúcar e alimentos calóricos. Quando alimentamos o nosso corpo com alimentos ricos em qualidade nutricional ele não sente falta dos outros alimentos.
  • Senti e ainda sinto dificuldade em comer grandes quantidades de comida e várias vezes ao dia, principalmente no verão
  • Deixar de comer carne para mim foi muito fácil e não sinto qualquer saudade, mas o queijo é aquilo que sinto mais saudades e ocasionalmente ainda como.
  • No inicio não dá muito prazer ver um prato cheio de brócolos, arroz e feijão, mas à medida que nos vamos habituando sabe cada vez melhor.  A verdade é que é mais fácil gostar de batatas fritas com ketchup do que legumes e com o tempo o nosso corpo deixa de reconhecer os brócolos ou mesmo a fruta como um alimento saboroso e passa a preferir alimentos artificiais.  Essa é a parte mais difícil.

Esta foi e é a minha historia (caro que muito resumida), de como mudei e ainda estou a mudar hábitos alimentares. Não tenho uma alimentação perfeita (nem acho que exista), mas é aquela que me faz sentir bem e na qual me identifico, se for preciso como um bolo ou batatas fritas ou bebo alcool, mas já não é algo que faça diariamente, mas também não sou fundamentalista. No próximo artigo vou tentar dar algumas dicas para quem também quer mudar de hábitos alimentares.

Até lá..

Be Healthy*Be Conscious*Be Happy

Vânia

Vânia Ribeiro

Vânia Ribeiro

Autora e fundadora do Made by Choices

Estou aqui para te apoiar e ajudar a (des)complicar a alimentação de base vegetal! 

Os livros já publicados:
Livro 1 – As 5 Cores da Cozinha saudável
Livro 2 – O Menu da Semana“.

11 Comentários

  1. Marlene Freitas Nóia

    Olá

    Fiz o “desmame” do açúcar e dos refrigerantes há alguns anos, um processo muito semelhante ao teu… mas com o crescente número de casos de cancro na minha família, resolvi que estava na altura de cortar carnes, não sei se quero ser vegetariana porque não sinto que precise de rótulos, mas sei que quero que a minha regra sejam os pratos vegetarianos, a carne e o peixe serão ocasionais e a quantidade equivalente à palma da mão. Não sinto que esteja a custar, custou mais tirar o açucar. Ainda como sobremesas e chocolates ocasionalmente (é muito raro), e quando como, sei que vou querer mais, mas não pode ser…

    Responder
  2. Andreia Fernandes

    Andava eu pela net em busca de inspiraão para planear as minhas refeiçoes semanais e deparei-me com o seu blog (tem um texto excelente sobre isso :)) e resolvi espreitar mais.
    Adorei a sua “história” e vai inspirar-me no meu caminho que estou a tentar traçar.

    Obrigada pela partilha

    Responder
    • Vânia Ribeiro

      Olá Andreia!
      Fico muito mas muito feliz por ler a sua mensagem, obrigada!
      Espero continuar a inspirar!
      Parabéns pela decisão de mudar o caminho.
      Beijinhooooooooos
      Vânia

      Responder
  3. Manuela Carvalho

    Olá Vânia

    Comecei a seguir o teu blog já há algum tempo. E simplesmente adoro. Desde que me conheço que me preocupo com a alimentação versus saude. Gosto da forma como simplificas as receitas. Já fiz algumas e ficaram muito boas. Vou continuar a seguir o teu blog atentamente.Abraço

    Responder
    • Vânia Ribeiro

      Olá Manuela,
      Obrigada pelo comentário tão carinhoso! fico feliz que continue a seguir. 😉
      Beijinhos
      Vânia

      Responder
  4. Ana

    Descobri hoje o teu blog através da Raquel (que fez o 1.º comentário neste post), só posso dizer que adorei ler este post e que me identifiquei em muitas das coisas, embora já tenha mudado a alimentação há muitos anos. É incrível como mesmo tentando ter uma alimentação saudável há sempre coisas que queremos mudar! Neste momento quero ter uma alimentação mais crua e por isso ando à procura de inspiração e força de vontade em todo o lado.
    Vou continuar a explorar o teu cantinho.
    Obrigada pela partilha 🙂

    Responder
    • Vânia Ribeiro

      Olá Ana!

      Fico muito feliz que tenhas gostado do post.. sabia que ao expor a minha história algumas pessoas se iam identificar com ela.. e poderiam buscar alguma inspiração 🙂 é mesmo verdade, queremos sempre ir mudando, e o nosso corpo pede essas mudanças.. no verão também tento ter uma alimentação mais crua (principalmente este ano), apesar de não ser 100% e é mais de manha e hora de almoço.. mas no inverno é quando acho mais difícil.. mas há muitos vídeos (youtube), mesmo grupos do facebook que se dedicam ao crudivorismo (possivelmente já os conheces) mas se quiseres posso indicar-te alguns que podes não conhecer e que te possam ajudar a inspirar 😉

      Beijinhos e obrigada pelo teu comentário tão carinhoso
      Irei explorar o teu blog 😉

      Vânia

      Responder
  5. Raquel Silva

    Descobri hoje o teu blog…e só tenho uma coisa a dizer: adorei! Tou quase a chegar aos 32 e decidi agora mudar os meus hábitos alimentares, por isso a partilha da tua história vai-me ajudar muito 🙂 Obrigada e cá fico a aguardar o parte II.
    Beijinhos!

    Responder
    • Vânia Ribeiro

      Olá Raquel, antes de mais obrigada pelas tuas palavras 😉 fico feliz que tenhas tomado essa decisão, nunca é tarde para mudar e ainda bem que a minha história te vai ajudar. Beijinhos e em breve irei partilhar a parte II. P.s: Gostei muito do teu blog, já está nos meus blogs a seguir no bloglovin 🙂

      Responder
  6. Sofia

    Vânia, obrigada pela partilha da tua história! Já me ajudou saber que também tiveste as tuas dificuldades (algumas das quais são minhas também e outras que não são qualquer dificuldade para mim, como o caso do açúcar…). Da maneira como escreveste o artigo, a transição alimentar já não me parece assim um bicho papão tão grande! Agora fico à espera da parte II mas muito obrigada pelo artigo detalhado! Foi-me muito útil! Um beijinho e continuação do excelente trabalho!

    Responder
    • Vânia Ribeiro

      Banhanhinha grata pelo teu comentário e feedback 🙂 cada um de nós tem as suas dificuldades num processo de mudança, até porque se assim não fosse não seria uma mudança e certamente daqui a uns meses ou daqui a 1 ano vais olhar para as tuas e ver que as superas-te todas, é tudo uma questão de objectivos e de pensares como queres que seja a tua alimentação e a tua saúde e depois trabalhar para isso 😉 uma beijoca

      Responder

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