O copo menstrual pode ser ainda desconhecido para algumas mulheres (ou talvez não), mas a verdade é que veio revolucionar a forma como nós lidamos com a menstruação e a higiene íntima.
Se até há alguns anos não existam muitas alternativas e informação acerca do impacto do uso dos pensos e tampões na nossa saúde e no planeta, hoje conseguimos ter acesso a alternativas mais ecológicas e saudáveis para o nosso corpo.
Não é novidade que sou fã dos copos menstruais, já falei sobre isso no artigo a saúde no feminino. Uso há vários anos e super recomendo, mas confesso que no início não foi muito fácil a adaptação.
Os produtos de higiene íntima
A pele é o maior órgão do corpo humano, mas é também o mais fino e permeável. O que significa que grande parte das substâncias que estão em contacto direto e permanente com a pele, acabam por ser absorvidas.
Estima-se que durante a idade fértil, que dura em média dos 13 aos 45 anos, cada mulher utilize entre 10.000 e 15.000 tampões e/ou pensos higiénicos.
Durante o período menstrual (dura em média 6 dias), os pensos e tampões estão em contacto direto com a mucosa vaginal que é vascularizada, permitindo uma absorção rápida das substâncias.
O problema da grande maioria destes produtos de higiene íntima é que são fabricados com material tóxico para o nosso organismo, como:
- Dioxina, produto químico (pesticida) usado no branqueamento dos pensos e tampões.
- Raiom ou Rayon, seda artificial fabricada através de fibras de celulose de algodão branqueado com cloro. É o tecido de base da maioria destes produtos e o que permite a absorção do fluxo menstrual.
- Viscose, fibra artificial de celulose fabricada através de pedaços de madeira de árvore. Este material permite o toque aveludado.
- Plástico e ftalatos, derivado de petroquímicos. Muito usado nos pensos higiénicos e nos aplicadores dos tampões.
- Algodão não biológico, onde são usados inúmeros pesticidas para o seu cultivo e são geneticamente modificados.
- Neutralizadores de odores e fragrâncias, contêm químicos e substâncias irritantes para as mucosas.
Significa que todos os meses, o nosso organismo absorve alguns dessas substâncias tóxicas e a longo prazo podem provocar problemas como toxicidade, irritações, infeções fúngicas e bacterianas e desequilíbrios do pH e flora vaginal.
Outro fator importante é o impacto ambiental
Se temos em média 6 dias de menstruação por mês, significa que usados (em média) 3 tampões ou pensos higiénicos por dia. Contabilizando, isto dá um total de 18 tampões e/ou pensos higiénicos que descartamos todos os meses e que simplesmente vão para o lixo ou em alguns casos (para a sanita) e vão parar aos nossos oceanos. Como referi acima, a maioria destes produtos tem plástico que não é biodegradável.
O copo menstrual
Apesar de o seu uso ser recente em Portugal, surgiu pela primeira vez em 1932 nos Estados Unidos da América e são uma alternativa aos pensos higiénicos e aos tampões.
O copo menstrual é um recipiente, em forma de cone com uma haste na extremidade que se insere na vagina (tal como um tampão) e que recolhe o fluxo menstrual (mas não o absorve, ao contrário dos tampões).
O fluxo fica retido no copo, até ser retirado. Depois de ser extraído é facilmente lavado com água. O copo menstrual pode ser usado desde o primeiro até ao último dia do ciclo menstrual.
Tamanhos:
O OrganiCup existe em 2 tamanhos disponíveis: *(existem marcas que consideram o tamanho do copo em função da quantidade de fluxo, o que consideramos errado e provoca/provocou más experiências)
Tamanho A: para mulheres que não fizeram parto vaginal (=natural)
Tamanho B: para mulheres que fizeram parto vaginal (=natural)
A diferença entre os tamanhos é muito pequena, no entanto é importante escolher o tamanho certo para evitar fugas.
Composição:
O copo é 100% silicone médico e certificado hipoalergénico. É macio e flexível. Vegan (não testa em animais) e aprovado pela FDA. Adapta-se perfeitamente ao corpo da mulher. Não tem químicos, cloro, cola, perfume, amaciadores ou absorventes. E é seguro para uso interno.
5 passos para usar corretamente o copo menstrual:
1. Esterilizar:
Na primeira utilização e entre os ciclos menstruais o copo deve ser fervido em água. Isto vai permitir uma correta higienização e destruir eventuais bactérias.
Como proceder à esterilização:
- Normalmente uso um tacho (comum) com bastante água e deixo que ferva.
- Quando a água começa a ferver, coloco o copo lá dentro (deve ficar submerso) e deixo ferver entre 3 a 5 minutos.
- Passado esse tempo retiro o copo com uma pinça, seco e guardo no saco de algodão que vem com o copo ou procedo à inserção.
2. Inserir o copo:
A primeira vez pode ser mais complicada e precisa de um período de adaptação (ao fim de algumas tentativas, garanto que se torna mais fácil).
Como proceder à correta colocação:
- Humedecer o copo com um pouco de água antes de colocar.
- Existem várias técnicas diferentes de dobrar o copo antes de introduzir e podes pesquisar e testar de forma a encontrares a tua preferida (no YouTube há imensos vídeos com estas técnicas), vou enumerar apenas 2:
1ª – Espalmar o copo e dobrar ao meio (formando um C)
2ª – Dobrar uma das bordas para dentro (interior do copo) e apertar com os dedos para não abrir. - Escolher uma posição para colocar o copo (normalmente de cócoras é mais fácil).
- Colocar o copo no canal vaginal (sempre dobrado, ou em C ou dobra para dentro “punch-down” e ajustar com o dedo até que a haste fique no interior do canal. (Ver vídeo acima).
- Verificar se o copo abriu corretamente, para isso basta colocar um dedo na base, rodar ligeiramente a haste puxar sem retirar o copo. Ele deve oferecer resistência e criar vácuo.
3. Remover o copo
Para remover o copo não é muito confortável se apenas puxarmos pela haste (como fazemos com um tampão) pois o copo está em vácuo e vai fazer pressão. A forma correta de retirar:
- Puxar gentilmente a haste até alcançar o fundo do copo.
- Com um dedo apertar lateralmente o copo para libertar o vácuo e puxar lentamente até remover completamente e de maneira a que fique direito para não verter. Atenção, em toda a fase de remoção devemos certificar que não há vácuo (isto evita o desconforto de retirar o copo).
4. Lavar
- Deitar o fluxo na sanita e lavar bem com água.
- Pode ser usado um líquido de limpeza neutro.
- Se não estiver em casa costumo limpar com papel higiénico ou uma toalhita íntima.
- Depois de limpo voltar a introduzir o copo (processo 2).
5. Guardar
Após o fim de cada ciclo menstrual, proceder à esterilização (mesmo processo do ponto 1) e guardar no saco de algodão que vem com o copo e está pronto a usar no próximo mês.
5 Vantagens no uso do copo menstrual:
1. É comodo:
Dependendo de cada mulher e da quantidade de fluxo, pode permanecer colocado por um período de 12 horas. Normalmente lavo o copo no banho de manhã, coloco e só volto a retirar ao final do dia. Isto evita ter de retirar e lavar fora de casa.
Podemos fazer exercício físico, ir a praia e dormir com o copo sem qualquer inconveniente. Como é feito de silicone maleável, adapta-se perfeitamente ao nosso corpo. Não se sente.
2. É uma das soluções mais ecológicas:
Um só copo menstrual pode durar em média entre 5 a 10 anos. Já imaginaram a quantidade de pensos e tampões que usariam nesse período? Para além disso usamos poucos recursos para a sua higienização. Sem desperdícios. O planeta agradece 🙂
3. Poupamos dinheiro:
O copo custa cerca de 24€ e dura entre 5 a 10 anos. Em menos de 1 ano já rentabilizámos esse valor. Ao fim de 10 anos poupamos imenso dinheiro.
4. Previne infeções:
Ao contrário dos tampões, o copo não seca as mucosas vaginais, permite a lubrificação natural. Como não tem químicos, não interfere no pH e equilíbrio da flora vaginal.
5. Não liberta odores:
Ao contrário do que possamos pensar, o fluxo menstrual não tem um odor proeminente. Em todo o caso, como o copo cria vácuo no interior do canal vaginal, este não deixa passar odores.
3 Desvantagens do copo menstrual
As desvantagens que vou enumerar são as minhas próprias dificuldades no início e sei que muitas mulheres também já passaram pelas mesmas experiências.
1. Não é muito intuitivo ao inicio
Confesso que precisei de uns meses de adaptação. Conheço mulheres que se adaptaram logo desde o primeiro dia e outras que nem por isso. Desde nova que me habituei a usar tampões, pois o meu estilo de vida assim o exigia, mas o copo menstrual pode ser ligeiramente diferente.
Quando olhei para um copo menstrual pela primeira vez pensei “como que raio vou colocar isto?”, a verdade é que nessa época ainda não existia muita informação ou vídeos. Enquanto não nos habituamos é estranho, pois não sabemos bem qual a posição mais correta para o colocar.
O meu conselho:
– Relaxa! Se estiveres tensa, os teus músculos também vão estar e vai criar resistência. Ao relaxar conseguimos que o copo deslize mais facilmente.
– Não desistas! Se não correr tão bem à primeira tenta numa próxima ocasião. As primeiras vezes é mais complicado pois não sabemos se o nosso corpo se vai adaptar (afinal é um objeto que estamos a colocar dentro do nosso corpo), mas com o tempo fica mais fácil.
– Percebe qual o melhor ângulo. Se causar dor ou desconforto, significa que o ângulo de entrada não está correto ou que o copo não está colocado corretamente.
2. Se não for bem colocado pode ter fugas
Durante os primeiros meses de uso pensei “o copo menstrual não é para mim”. Tive de usar pensos ao mesmo tempo pois era frequente ter fugas.
Se o copo não estiver bem colocado e não criar vácuo no seu interior pode sim haver fugas.
O meu conselho:
Depois de colocar, verifica se o copo abriu corretamente, para isso basta colocar o dedo na entrada do canal vaginal e verificar a base, rodar ligeiramente a haste e puxar um pouco sem retirar. Ele deve oferecer resistência e criar vácuo. Se isso não acontecer rodar ligeiramente a a haste para um lado de forma a rodar o copo no interior e verifica novamente.
3. Pode ser difícil de remover nas primeiras vezes
O que fazemos quando pensamos em retirar o copo, basta puxar certo? Errado! A primeira vez que tentei retirar o copo, puxei simplesmente a a haste para baixo e fiz força (literalmente achei que estava a ser sugada, foi doloroso!).
O vácuo criado pelo copo serve para que este não saia do canal vaginal ao tossir ou simplesmente quando fazemos força com os músculos.
O meu conselho:
Para retirar, colocar o corpo num ângulo confortável (costumo retirar de cócoras). Suavemente puxamos a haste até a base do copo chegar à entrada do canal vaginal. Com um dedo pressionamos a base de forma a retirar o vácuo e depois puxamos suavemente.
Ao retirarmos o copo na vertical o fluxo não verte para fora.
Já conheciam o copo menstrual, usam?
até breve
Vânia
Disclamer:
Este artigo foi elaborado em parceria com a OrganiCup. Apenas trabalho com marcas e conceitos que estejam alinhados com a filosofia do Made by Choices.
Bom dia Vânia,
Gostei muito do artigo, ando a fazer pesquisa porque vou começar a usar um copo menstrual e fiquei só com uma dúvida. No final do ciclo esterilizamos o copo e guardamos na bolsa de algodão. No ciclo seguinte quando o utilizarmos no primeiro dia esterilizamos novamente?
Obrigada,
Inês
Olá Inês
Costumo passar por água no início do ciclo e só volto a esterilizar no final.
Vânia
Partilho da mesma opinião Isa ❤️
Muito util este post! Excelente conteúdo, clareza e objetividade. Vai auxiliar muitas mulheres a terem mais conforto no ciclo menstrual 🙂
Muito obrigada!
Eu uso o copo há, sensivelmente 1 ano e super recomendo. É muito mais higiénico, muito mais prático, passo o dia todo sem qualquer tipo de preocupação, super confortável e gostaria de o ter “conhecido” mais cedo 🙂
Olá Vânia! Eu já conhecia através do http://www.pegada-verde.pt e é por isso que venho perguntar: qual é entre o organicup e a Lunette?
Obrigada!
*qual é a diferença 🙂
Olá Joana, Não tem diferença na utilidade, são apenas de marcas diferentes. Já usei os dois e é igual ?
Aconselho e recomendo vivamente! Tenho um da mesma marca, ainda estou a adaptar-me, mas tem tudo para dar certo! 🙂